Miopia, thank you lord.

Foi ali, ali. Por trás daquelas rochas que apanhei um casal de velhotes a foder. Graças aos meus defeitos de vista imaginei-os jovens e bonitos. Até os ver sair ao fim do dia.

[Nada contra, devo dizer.]

WoW

"O segredo de um cuscuz"

Dei-me conta hoje

Os meus amigos não entram em êxtase quando chegam os saldos. Os meus amigos não passam o tempo livre em lojas de roupa ou acessórios. Os meus amigos não estão a par das últimas tendências nem lêem a Vogue. 

Mas quando abre a feira do livro... eles gastam o que têm e o que não têm (é mais por aqui) na dita feira e são capazes de lá ir todos os dias. Eles enlouquecem, são felizes, têm espasmos de alegria quando percebem que aquele livro que custava 25 euros na Fnac está ali a 10 euros.

E podia ser por isto que eu gosto deles.

O dia de hoje (?)

Acordei e fui à quimioterapia.

Depois fui trabalhar.

Na hora de almoço fui fazer a hemodiálise.

Voltei ao trabalho.

Saí mais cedo para fazer uma endoscopia.

A incrível juventude do Shrek

Ontem à noite saí de casa direito ao cinema King para ver o filme "O segredo de um cuscuz". A meio caminho (e passado algum tempo porque nestas noites de verão ando a pé) lembrei-me do medeia card: fuck, ficou em casa. Tive que voltar atrás e acabei a ver o Hulk. É do género de filmes que não vejo no cinema, mas como era com o Edward Norton...

Pronto. Vi e estive uma hora e meia distraído. Não vale a pena falar muito do filme, nada para reflectir ou discutir. Mas existem três momentos que me fizeram criar este post. São eles:

1 - o personagem do Edward Norton no Brasil a aprender português vendo televisão, mais propriamente vendo o Gualter (Grover naquele país). Ver o Gualter falar brasileiro causou-me mais reacção física do que qualquer cena do grande monstro verde a destruir carros e matar pessoas. (note-se  que em mim o Gualter é bem capaz de causar mais emoção do que um video de crianças a morrer à fome em qualquer país de terceito mundo).

Infelizmente no youtube não encontrei nada de jeito, por isso aqui vai um gualter dos bons tempos da minha infância, em português.

2 - Tim Roth, esse actor que conquista respeito, é o mauzão do filme. Até aqui nada de especial. Até ao enorme deja vu que tive ao ver o seu personagem, em estado físico muito debilitado, a recuperar milagrosamente numa cama de hospital. Quem viu "Youth without Youth" ("Uma Segunda Juventude"), de Francis Ford Copolla, vai perceber a sensação de deja vu.

3 - houve cenas no filme que só me faziam lembrar o Shrek. Vá lá saber-se porquê:

Restos*

Agora que os restos descansam eu posso ir de férias. Que já estava num estado pior que os cartazes.

*algo que fica. Uma memória de algo. Neste caso do espectáculo "Rir Tendo Consciência da Tragédia".

Pena Capital

Ontem, no início da última sessão do espectáculo "Rir Tendo Consciência da Tragédia", fui como em todos os espectáculos ler poemas de Mário Cesariny às prostitutas da Rua Nova do Carvalho. Não houve, ao longo dos seis espectáculos, nem uma que ficasse indiferente ao que lhes lia. Quando as abordava, explicando que estava a fazer um espectáculo a partir de Cesariny, e lhes pedia para escutarem um poema, todas foram acessíveis e disseram logo que sim. E ouviram com uma atenção que nunca percebi em ninguém. Olhavam-me nos olhos e reagiam a cada verso, a cada ironia e a cada conjunto bonito de palavras com os olhos a brilhar. 

Ontem, li um poema do livro Pena Capital que começa assim "O amor que é só o amor é já o inferno" (infelizmente não vou poder transcrever mais do poema por motivos que vão descobrir se lerem o post até ao fim). Li-o a uma rapariga que já noutra noite me tinha escutado e cujos olhos, ao inicio apagados, brilharam mais que tudo naquele momento. Ela disse "que bonito". E eu ofereci-lhe o livro. 

Isto sim, é uma coisa muito bonita.