Wednesday, February 04, 2009

DA CRISE

Acho que a so-called crise é uma coisa que começou na nossa cabeça. No medo que se instala pelo que supostamente está para vir, no medo de senhores de fato e gravata sentados em mesas de reunião com canetas de tinta permanente e blocos com o logotipo da companhia, senhores-galinhas medrosas que se borram quando ouvem palavras como accionistas, previsões e custos. Senhores que vão dar uma mija e logo lhes ocorrem as palavras cortes e despedimentos. Senhores-merda que nós mesmos ajudamos a construir com palavras de receio, com a nossa ignorância e preguiça em saber das coisas, com a nossa crença ingénua e burra nos media, os media-responsáveis, responsáveis por nos incautar esta coisa a que chamamos crise.

Começou na nossa cabeça, mas já não está só na nossa cabeça. Já se lhe sente o cheiro, já se apalpa, já nos atingiu em cheio. E mesmo no meio do coração. Porque é com muita pena que acabo de saber que a empresa para qual trabalho (ou presto serviços, é um termo mais adequado, sim, a empresa para a qual presto serviços) acabou de iniciar uma vaga de despedimentos. Desperdiçando assim algum do melhor talento que aqui existe. Talvez a única pessoa que considero que tem dois dedos de testa vai ter que ir embora porque o contrato acabou. Má sorte a dela. E má sorte a nossa que ficamos sem ela.

Eu cá estou, numa situação priveligiada que a principio me protege. Acho que neste "ano de sobrevivência", como lhe chamaram, tive sorte. O que não me impede de continuar sem perceber porque é que temos que ser atingidos pela falência de um sistema que sempre me pareceu irreal. Mais do que nunca continuo sem perceber como pode o nosso mundo civilizado funcionar com base em números virtuais e especulações.

No comments: